Não achei nenhuma imagem para ilustrar esse artigo, e tampouco minha indignação. Antes de tudo quero dizer que como estudante de Jornalismo e defensor do diploma como um voto a favor do profissionalismo, fiquei desapontado com a decisão do STF. Mas na verdade não é o fim do mundo, e nem motivo de paranóia, para infelicidade de muitos inescrupulosos que desejavam o fim da obrigatoriedade do diploma. Não mais o diploma, mas o talento fará a diferença, esse talvez seja o grande trunfo dentro desse momento apocalíptico para os jornalistas, também diminuirá a farra dos diplomas nas inúmeras faculdades de esquina de surgem diariamente. Algumas faculdades vão fechar, e só as melhores vão se manter. Agora, também, veremos desveladamente quais empresas jornalísticas podem levantar o mão, e verdadeiramente, se auto-proclamar séria e responsável socialmente, compromissada com o leitor-consumidor. Quanto às contratações, suponho que não mudará muita coisa, será preferível um profissional formado em jornalismo, mas não será via de regra. A verdade é que de alguma forma favorece as grandes empresas do ramo, pois a questão de pagamento do piso salarial deixa de ser necessária. Hoje, para o jornalista formado trabalhar, o mercado será mais competitivo, pois agora ele estará concorrendo a um cargo, onde quem vai determinar o que irá receber será o empregador, e não uma determinação sindical. O voto do STF humilha a memória de gerações de jornalistas profissionais e, irresponsavelmente, revoga uma conquista social de mais de 40 anos. O ministro Gilmar Mendes dizer: “A formação específica em cursos de jornalismo não é meio idôneo para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros”, foi um dos maiores absurdos, ou se preferir, pérola, já verbalizada por uma autoridade tão importante no país. Com essa afirmação ele revogou todos os casos de calúnia, infâmia e difamação já julgados nesse Brasil do retrocesso social e democrático. Como disse Elaine Tavares: “É um argumento anti-intelectual, anti-cultural, anti-vida.”
Vale lembrar que o diploma nunca foi exigência para praticar o jornalismo, Arnaldo Jabor, Boris Casoy, Diogo Mainardi, Miriam Leitão, são exemplos considerados “grandes” que não tem diploma em jornalismo, o que jamais e de forma alguma reduziu sua aceitação nas folhas jornalísticas. E isso roga e comprova o clichê “que nada substitui o talento”. No Brasil, a mídia deveria ser realmente tratada como 4º poder e ser comandada por pessoas sérias, idôneas e com base acadêmica. Informar e levar conhecimento pras pessoas não é algo pra ser tratado como descartável, inexpressivo, sem valor. O fim da necessidade da formação profissional representa o fim do compromisso dos jornalistas com o Código de Ética da profissão. Isso abrirá as portas do jornalismo para os picaretas, que passaram a usar a informação em interesse próprio, sem qualquer compromisso com a sociedade e com a ética, um déjà vu triste da História brasileira. Gostaria de deixar claro e evidente que, não que a formação acadêmica impeça o profissional de errar, mas o diploma é uma garantia de que ele ao menos teve acesso a um conhecimento que não pode ser adquirido como conseqüência de aptidões naturais e algum treinamento; o mesmo equivale para engenheiros, enfermeiros, dentistas. A expectativa futura para os jornalistas seria a criação do Conselho Federal de Jornalismo, que embora imprecisa e criticada, mas havendo uma reformulação poderia ser um novo marco do jornalismo brasileiro, e tudo voltaria a correr normalmente. Foi um duro golpe na democracia que afetará gerações futuras, o resultado do que se fez nesta quarta-feira repercutirá anos mais tarde. A qualidade da informação também foi e será danificado por esse ato irresponsável da justiça do Brasil. Pois citando novamente Elaine Tavares: “é bom que se diga, o jornalismo é uma das formas de se comunicar alguma coisa a alguém que traz no seu bojo todo um conjunto de regras que extrapolam o elemento primordial de simplesmente dizer a palavra. Jornalismo é um jeito de narrar que pressupõe análise, conhecimento histórico, impressão, focos narrativos, contexto, conhecimento sobre linguagem, signos etc.. Coisas que a gente precisa aprender em relações de educação formal que extrapolem o desejo criador e criativo do ser sozinho.”
Para finalizar vou citar Muniz Sodré, uma frase que vi essa semana, não lembro em que lugar: ' Como conceber hoje o funcionamento dessa instituição "quase-pública", geradora da informação necessária ao cidadão para o pleno funcionamento da democracia, sem uma formação universitária, especializada, de jornalistas? Informação não é mero produto, nem serviço: é o próprio solo da sociedade em que vivemos, é o campo onde joga o cidadão. Se a garantia dessa formação adequada se espelha hoje no diploma, viva o diploma.
I-R-R-E-S-P-O-N-S-A-B-I-L-I-D-A-D-E.