terça-feira, 26 de agosto de 2008

Insolubilidade

As casas legislativas brasileiras vêm sendo afetadas por um processo que tem como objetivo filtrar os elementos impuros que perduram na sua composição, esse dito processo tem uma espécie de metafunção, como se os assuntos na pauta das câmaras, assembléias e plenários fossem os próprios políticos e seus desvios de conduta e lapsos de decoro parlamentar, corrupção ativa, passiva, dentre outros vários tipos de putrefação; todos esses acasos que os políticos impuros produzem são observados, analisados nas CPIs, e ai é que está a questão, pois, as comissões parlamentares de inquérito roubam a cena, e tomam para si a atenção que poderia ser prestada a temas de maior necessidade e relevância. É sempre assim, e o saturante é que não gera resultado concreto, não causa dano algum na prepotência material e humana dos elementos, e nem um modelo de punibilidade aplicável á outros sujeitos da mesma casta, e, sobretudo, escapam da memória da sociedade como um gás ultra-volátil.
O grau de insolubilidade desses elementos varia positivamente no momento em que há a fusão entre eles, as substâncias-os partidos- compõem a parte agregadora que os torna quase imbatíveis; com o bônus do foro privilegiado e da impetuosa imunidade parlamentar muitos saem da sociedade civil como bandido e buscam a eleição para fugir dos processos ou levá-los ao superior tribunal, porque sabe que chegando lá terão um vasto período de tempo até o possível julgamento. Por falar nisso, a não divulgação e impugnação dos “ficha suja” foi mais um duro golpe na ‘beta’ democracia, os candidatos com sentença condenatória transitada em 1ª estância não terão seus nomes submetidos ao juízo de valor da sociedade, logo, teremos semicriminosos concorrendo a prefeito e vereador.
Também graças aos “poderes supremos” do poder público, que restringiu a ocasiões excepcionais, o uso de algemas é exclusivo para os casos em que haja reações ácidas dos detidos, uma medida que na frente das câmeras irá obter grande êxito. O glamoroso caso nepotismo fruto de CPI, e que obviamente foge dos nossos interesses reais, pois é o político quem contrata os parentes, entrou na pauta nacional novamente, quando o STF resolveu desenterrar a polêmica e vetar definitivamente a contratação de parentes até 3º grau nos três poderes; a brecha dessa vez está mais para uma fenda bem larga, a inobservância está no fato de que entre os elementos e substâncias impuras há uma resistente ligação covalente, eles operam mutuamente, um contrata o parente do outro, e assim a cadeia de corrupção pode prosseguir ininterruptamente. A reforma política descentralizadora, ampla e responsável seria a solução ideal para esse sistema, mas, a solução real surge no período das eleições que é quando há a mistura homogênea: político-povo, eles invadem a sociedade, e é ai que ocorre o assédio moral ao voto, e ao povo detentor desse instrumento seletivo cabe examinar o caráter do político e o seu próprio caráter e daí fazer a depuração correta.



domingo, 17 de agosto de 2008

Um país sem olimpíadas

Em visita à China, Lula declarou que espera o Brasil vencer o direito de sediar os jogos olímpicos de 2016. Trazer as olimpíadas para o Brasil seria uma forma de democratizar os jogos, e com esse discurso bem socialista recalcado, cingido de um dissimulado complexo de inferioridade que chega a ser mendicante, ainda afirmou que os "pobres" da América do Sul teriam a chance de assistir uma olimpíada. Os 40 bilhões que a China injetou nos jogos parece não intimidar o presidente, mas isso não surpreende, já que um governo que arrecada abundantemente, gasta muito para alavancar o PIB, e mal para "custear" a máquina pública, tem agora um pressuposto legítimo para manter essa situação de esterilidade que o Estado vive.
Diante dos enlaces econômicos, sociais, democráticos, e tonicamente políticos que vigoram no país, angariar um evento dessa magnitude só é concebível havendo uma reestruturação ou uma restauração de boa parte da infra-estrutura, com investimentos também nas áreas de atenção social, que poderia converter e conduzir ao melhoramento de algo ainda mais importante, a supra-estrutura. Se segundo teóricos das ciências sociais, simploriamente podemos conjecturar que supra-estrutura é todo o conhecimento que o homem pensa e cria, então, claro que isso gera o velho dilema social: investir em infra-estrutura para se ter ganho na supra-estrutura, ou o contrário?

Como disse Lula, a terra onde não há terrorismo; pelo menos não o terrorismo extremista-xenófobo, mas outras espécies de terror que muitas vezes são bem mais cruéis e desumanos. Diferente da China, aqui não temos toda aquela poluição, no Brasil os poluentes se concentram em Brasília, esses sim nocivos à saúde, à educação, ao meio ambiente, etc.. Guerra entre etnias é um problema que não temos por essas bandas; na pátria amada reina a discriminação mascarada, negros, índios, nordestinos e homossexuais têm um tratamento diferenciado na nossa sociedade.
Observando o perfil sócio-econômico e cultural do Brasil por um escopo mais otimista e nacionalista, nosso país tem grande diversidade biológica, uma vasta pluralidade cultural histórica, também ganha ênfase o Brasil como pólo turístico, muitas riquezas naturais, enfim, toda a beleza exótica de um país tropical que se destaca entre os demais.
Tudo muito bonito, mas o que se tem de verificar é quem sairá vitorioso dessa empreitada; primeiramente o que o advento de uma olimpíada no Brasil vai trazer de concreto, por exemplo, para um estado como o Acre, Roraima ou a Paraíba; o mais provável que ocorra é uma concentração ainda maior de riqueza no centro-sul do país. Outro fator seria a figura do atravessador político que teria o caminho aberto para obtenção de benefícios com o "festival" de licitações; claro, poderia ser esse também o momento propício para um clamor civil por transparência, mas em se tratando de Brasil onde tudo é feito na surdina, fica a interrogação. A maravilha de uma primeira olimpíada na América do Sul, no Brasil, não pode encobrir o fato de que se não gerida com responsabilidade e igualdade traria mais desigualdades e injustiças sociais.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Olimpíadas: o reflexo da economia mundial

As olimpíadas, maior evento esportivo histórico mundial, começará dia 8 em Pequim repleta de polêmicas, dentre as tais, as grandes células de poluição que afetam e incomodam a respiração dos atletas e a situação político-social no Tibete, ameaças de boicote, que com certeza serão tema de protestos durante os jogos, tirando à parte os desastres naturais que vêm ocorrendo no país. Os jogos desse ano também pode marcar o fim da soberania do Estados Unidos no quadro de medalhas, já que em Atenas os chineses ficaram apenas a três ouros dos americanos, e agora, depois de quatro anos de investimentos astronômicos em "massa desportiva" vêm com todo poderio para arrebatar o 1º lugar dos EUA. Se isso realmente vier a acontecer, somente consolidará uma tendência que segue em vários ramos estruturais da sociedade, um deles a economia; com o mercado internacional hospedando um membro de peso relevante, que vem se apossando de fatias de capital mundial que antes só os americanos saboreavam. O comércio chinês vem invadindo os países, inclusive os EUA, de forma substancial, intensa e sem trégua com os produtos pirateados, de baixa qualidade, sem respeitar patentes, praticando uma concorrência desleal e arbitrária sob o olhar de uma OMC (organização mundial do comércio) até certo ponto inerte.

Observando e analisando o quadro de medalhas das olimpíadas de Atenas, vemos que entre os 10 primeiros colocados no ranking todos são nações de 1º mundo, sete membros do denominado G8 também estão nessa tabela. Essas posições não deverão ser muito alteradas nos jogos de Pequim, pois, países emergentes esportiva e economicamente não deverão figurar nos primeiros postos, e o prognóstico para Londres 2012 parece não ser diferente. Enquanto isso, a Rodada de Doha trilha seu caminho de insucessos, sem o fim dos subsídios agrícolas dos países ricos, ferindo "legalmente" os princípios de concorrência livre e leal da OMC. Lula, o principal interpelador da causa "Doha", diz que mesmo com os fracassos do acordo, continuará na luta pela maior competitividade das nações pobres no comércio exterior. Como nas olimpíadas o cenário se repete no mercado econômico, os "ricos" lideram e dominam as competições, e ainda dão as fichas do jogo, cabendo aos emergentes ajustá-las de maneira que haja as menores percas possíveis. Simplistamente falando, poderíamos propor que a colocação de um país no quadro de medalhas dos jogos e diretamente proporcional ao poder e eficácia que seu sistema econômico exerce e o quanto isso e empreendido no esporte-educação, claro, com algumas exceções que fogem desse pressuposto.

Traçar esse paralelo entre esporte e economia nos faz atentar para a ligação intrínseca que há entre essas duas grandezas; um país forte financeiramente que invista em esporte-educação terá êxito em suas conquistas desportivas que também trará retorno para a sua conduta sócio-econômica. Ao passo que, os Estados Unidos se perdem na "guerra", esbanjam bilhões nos gastos públicos, tentam se esquivar da crise imobiliária, a China faz sua parte, embora que se utilizando de meios duvidosos, cresce em um ritmo eufórico de mais de 10% ao ano, criando um verdadeiro "dragão oriental" a ponto de tragar a Águia Calva do ocidente.