sábado, 13 de setembro de 2008

À sombra da Águia Calva

Depois de um longo período de latência, ocultada dentro fortaleza econômica americana, a bolha imobiliária inevitavelmente explodiu, e causou grandes prejuízos em todo o setor financeiro, as bolsas do mundo inteiro caíram vertiginosamente; além disso, gigantes bancos americanos, fontes de boa parte da base do crédito oferecido ao planeta tiveram fortes perdas, e 12 já declararam falência; a médio prazo isso causará uma relevante desaceleração na economia. Alguns insinuaram comparações com a crise de 1929, a maior que o século passado atravessou, pois, também nasceu no berço do capitalismo moderno, os EUA, e que com a intervenção ativa do governo, encerrou o chamado liberalismo clássico. A partir daí a nova doutrina, neoliberal, vigente até hoje, propõe a não ou a mínima participação do Estado, enquanto nação, na economia de mercado, literalmente o ainda: "laissez faire, laissez aller, laissez passer",  que significa "deixai fazer, deixai ir, deixai passar", o que dá as empresas grande autonomia; diante do colapso financeiro que os EUA enfrentam e que contamina o resto do mundo, o Estado americano teve então que contradizer esse viés, e intervir para evitar que os bancos que são as pernas do capitalismo fossem arrancadas, para salvar o sistema, além de barganhar a seguradora AIG, injetou quase 180 bilhões na economia visando acalmar o mercado diminuir a volatilidade e aumentar a liquidez (a confiança do investidor), e o FED ainda deve criar um fundo de cerca de 500 a 600 bilhões em busca de conter essa devastação sem precedentes.

Agora, se esses bancos estavam à beira da bancarrota, por que será que não houve um plano cautelar de ajuda do governo no intuito de evitar a quebra e a falência dessas instituições supra importantes. Será que deixar fluir esse clima de tensão e temor, e em seguida reerguer a economia gloriosamente com todo o poderio imperialista, não foi estratégia? Pode ser que não, mas historicamente eles vêm se autodenominando salvadores da Terra, detentores da liberdade, mas enfim, são coisas que só a teoria da conspiração no seu mais alto grau de ironia pode explicar.
Pensando a crise a nível de Brasil, por enquanto só algumas baixas na bolsa que somente seguiu a tendência global, embora tenha um certo equilíbrio no momento; nosso banco central vendeu algumas centenas de milhões de dólares objetivando segurar a subida do dólar e manter o cenário interno do país intacto contra os efeitos da depressão. Como a crise do crédito hipotecário nos Estados Unidos atinge diretamente os bancos, então por que os bancos brasileiros estão imunes? A resposta é bem fácil e 'velha', dá para responder por silogismo: quem mais lucra e tem maior rentabilidade com os elevados juros no país são os bancos privados, logo, não têm porque se aventurar comprando títulos de hipoteca estadudinense. Veja como a vida e essa frase são irônicas: Lula que tanto deu lucro os banqueiros e é criticado por isso, hoje tem o mérito do seu governo, que é a economia, 'salvo' pelos bancos privados.

sábado, 6 de setembro de 2008

Um olhar sobre o pré-sal


As recentes descobertas de gás natural e petróleo na camada de pré-sal, entre 5 e 7 km de profundidade, nos campos de Jubarte e Tupi, respectivamente nas bacias de Campos e Santos, em regiões ainda pouco estudadas e pouco exploradas, estão trazendo grande furor e expectativa tanto á população brasileira bem como ao mercado econômico interno e externo, mas para extrair os recursos é necessário constituir um modelo de exploração para determinar as diretrizes que deverá seguir, como também definir se a Petrobrás irá ser a única empresa a atuar na produção, e se o Estado será ativamente participativo no concurso. Outro fator é com relação às áreas já leiloadas para empresas privadas, que seriam exploradas arbitrariamente sem a regulação do governo. A formação de uma nova estatal para gerir o pré-sal, gerou polêmica já que deixaria em escanteio a manda-chuva Petrobrás, mas essa opção já foi descartada por Lula. A Petrobrás que por sinal está se revelando mais uma multinacional do que puramente uma estatal, com ativos em diversos países, a empresa também obtém lucros estupendos vendendo áreas de exploração para organismos privados. Para o presidente, o principal beneficiário tem de ser o povo brasileiro que segundo a constituição é o real detentor do petróleo sob a figura do Estado; os planos de Lula para com as reservas do pré-sal são ambiciosos e utópicos no sentido em que pretende acabar com a pobreza no país e ainda investir tudo o que o Brasil nunca investiu em educação. Toda essa pretensão esbarra na opinião bem fundamentada de alguns especialistas em economia que dizem ser inviável custear desenvolvimento e projeção social instantaneamente com os recursos provenientes do petróleo, e mais, uma adição tão grande de capital na economia poderia ser infinitamente mais nocivo ao câmbio, repelindo investimentos privados, geraria inflação e aumentaria de sobremaneira as importações, desfavorecendo o mercado interno, tudo isso tem sim uma relação de causa bem coerente, além disso, é fato que todos os países membros da OPEP são pobres, desiguais, centralizadores e com baixos índices sociais, assim como são as demais nações exportadoras, assim como é o Brasil, quando há 55 atrás Getúlio decretava que "o petróleo era 'nosso'".


Nesse entretempo de descobertas no pré-sal e previsões visionárias do futuro, nosso governo parece ter esquecido tudo o que se pôs a mesa de negociações com os biodieseis, não se ouve, se fala ou se lê mais nada sobre biocombustíveis; alguns que defendiam o louvável discurso ambiental que se fez em torno das energias limpas e renováveis, enfiaram a mão no óleo escurecido e seguraram a bandeira do pré-sal como forma de desenvolvimento a todo custo, sem cuidados ambientais. É uma grande responsabilidade determinar onde serão investidos os trilhões oriundos da comercialização da commodity, afinal, o que realmente se espera é que não sejam cometidos os mesmos erros de cinco décadas atrás, e que a tentação ambiciosa de um projeto de perpetuação no poder não sobre caia aos alquimistas que farão revolução com petróleo.


“A riqueza do petróleo produz dólares, mas não desenvolvimento instantâneo” Ricardo Hausmann- Professor-economista Harvard.